Quando eu tinha uns 13 anos, comecei a escrever uma fanfic sobre um tema qualquer. Estava tão empolgado só de pensar nas ideias, que escolhi um nome qualquer, bastante brega, e publiquei.
Não foi um best-seller, nem entrou no New York Times, mas eu estava feliz. Passava as tardes, manhãs e noites pensando nas possíveis aventuras da minha protagonista fictícia, que tinha muito em comum comigo, é claro, mas também muitas características que percebi serem dela própria.
Tinha meus dois, três leitores, alguns que comentavam e outros que só liam em seu espaço reservado. Eu achava isso o máximo.
Com o passar dos anos, mais pessoas foram chegando ao meu pequeno mundinho. O projeto começou a tornar-se robusto, embora seguisse caótico e desorganizado, coisa que, até hoje, sou bastante.
Comecei a receber elogios pelo meu trabalho, e, surpreendentemente, isso me desestabilizou.
Com o passar dos meses, a escrita começou a ser mais difícil, inflexível, uma das tarefas da minha lista de afazeres imaginárias, daquelas que eu nunca cumpria, e que estava lá para me assombrar no dia seguinte, denunciando minha suposta incompetência ao desrespeitar um compromisso estabelecido entre mim e os leitores da minha pequena obra de ficção.
A ideia de escrever começava a me assustar. Tinha que ser perfeito. Eu precisava saber o que as pessoas achara, e, acima de tudo, elas precisavam gostar do que eu escrevia. Todas as ideias me pareciam problemáticas, não boas o bastante para serem publicadas e verem a luz do dia.
Passei a revisar muitos capítulos antigos com a desculpa de aperfeiçoar meu trabalho, quando, na verdade, minha insegurança falava mais alto e dizia que eu não poderia permitir que as pessoas vissem um texto tão improvisado e sem sentido quanto os que escrevi. Consequentemente, cerca de metade do meu trabalho original foi apagado, cortado.
Passava meses sem escrever nada.
Anos depois, ainda escrevendo e publicando da maneira inconstante e irresponsável que eu considerava o bastante, decidi (finalmente) escrever um roteiro para a bendita da estória. Percebi, obviamente, que meu eu de 13 anos de idade não estava nada preocupado com coesão, principalmente quando nunca anotara suas ideias, a maioria que se perdeu no tempo, tudo se desenrolou diferentemente de como pensei lá no meu quartinho pré-adolescente.
Só Deus sabe o quanto procrastinei para escrever aquele roteiro, que até hoje não está terminado.
E enfim, aos 19 decidi largar a estória. Não fazia sentido, me trazia repulsa só de me lembrar de todo o tempo que perdi correndo em círculos em busca de um propósito que nunca encontrei.
Hoje, depois de um breve desabafo, entendi que meu problema estava em deixar de fazer o que era importante para mim. O roteiro era ruim e sem sentido para mim, mas o pequeno Anu de 13 anos adorava. E meu pequenino clube do livro também. Não se importavam com as inconsistências, com os eventos mirabolantes, muito pelo contrário, se deliciavam com eles tanto quanto eu.
Foi quando comecei a me preocupar que me perdi. Porque a minha essência, o que fazia as pessoas gostarem das minhas histórias estava ali. E todo mundo sabe que atrás de todas aquelas personagens estava eu, confuso, querendo estabelecer minha identidade.
Por mais que meus leitores não tivessem percebido tão bruscamente a mudança de tom que se estabeleceu com o passar dos anos, eu percebi. Eu sentia como cada palavra parecia mais difícil de escrever, como os personagens, aos poucos, foram tornando-se menos fluidos e dinâmicos. Perdi minha paixão pela escrita porque me perdi tentando encontrar uma versão de mim incapaz de ser desgostada.
Quando a minha versão de verdade já estava ali, e eu já tinha amigos de verdade.
Hoje, eu compartilho a minha história na esperança de que isso refresque a memória de algum artista, ou qualquer um que sinta que está se perdendo e deixando escapar a visão de seus gostos e prazeres. Talvez você seja como eu, e tenha se perdido tentando encontrar algo que não existe: a perfeição.
Tem gente que vai gostar de você do jeitinho que você é: esquisito, meio rabugento, com crises, hipocrisias e imperfeições aqui e ali. Quer uma prova? Tem gente que ama Crepúsculo até hoje. Tem gente que adora Sharknado, ou as novelas velhas que passam na televisão.
Não estou dizendo que essas coisas são boas ou ruins, estou dizendo que são boas e ruins ao mesmo tempo. Há quem goste e quem não goste, como tudo na vida. Assim como você e eu. Por isso, você não precisa se esforçar. Talvez tenha é que largar as rédeas.
Acho que me perdi no roteiro inconsistente e na busca da perfeição. Minha estória "principal" é bem jogadinha de lado, não atualizo muito. Demoro dias, semanas ou até meses para escrever um capítulo, seja por voltar desde do início insatisfeito ou por preguiça e "medo" de escrever. Acho que também ando em busca desda tal inexistente perfeição.